A moto é invocada, tem personalidade forte e anda muito. Percebi quando acelerei na estrada. É uma H-D, no sentido mais amplo da palavra! É uma H-D comemorativa, o que a faz mais ainda uma H-D. Aparecida e musculosa, Cida para os íntimos, não é uma moto para todos. Agora vambora prestar contas de cada uma destas minhas afirmações e impressões.
É Invocada!
Logo de cara, quando você olha para a moto apoiada no encosto de pé, o design afiado desta H-D salta aos olhos. Linhas retas e arredondadas convivem em harmonia. O preto fosco rasgado pelas faixas laranjas é de uma combinação matadora, ainda mais por não ter tampa de combustível no tanque (tanque?), contribuindo ainda mais com um ar futurístico. Quem 400assistiu o filme Tron pode até lembrar dos protótipos do vídeo game pr otagonizado por Jeff Bridges.
É impossível não olhar para o motor Revolution® encaixado abaixo do tanque em um V de 60 graus simétrico, cortado pelos “frisos” prateados das aletas de refrigeração. Em outras motos o radiador é a ameixa estragada do bolo, e é impossível não olhar para este item horrivel. Na Night Rod o compartimento com 2,4 litros desaparece na paisagem do design perfeito.
Você só lembra dele quando o sistema de refrigeração é acionado. Mas aí é o menor dos problemas, mais à frente você lerá.
O “quase” monoposto de pilotagem da moto faz todo o sentido, não é uma moto para garupa. Sim, há uma extensão minúscula de assento que não consideraria banco de passageiro. Enfim, um banco diferente estragaria o desenho.
E já aproveitando que estamos falando de design, ele não atrapalha a posição de pilotagem. O da Rocker, por exemplo, já incomoda um pouco.
O comando avançadíssimo mantém as pernas esticadas e confortáveis.
Pensei em deixar para o final, mas não aguento e posso esquecer. Atenção Designers de Final de Semana: é passível de pena de morte quem instalar um dos acessórios abaixo:
- Paralamas longos (forca, e se sobreviver, suspensão da habilitação)
- Encosto de banco (se for “Sissy Bar”, morte lenta ao piloto e garupa)
- bolsas laterais (injeção letal com óleo queimado da Harley)
- Parabrisas (cadeira elétrica e ser enterrado no bauleto do item de baixo)
- Baú, bauleto, ou qualquer tranqueira que fique atrás de você (doação do intestino grosso em vida)
#pronto_falei
Tem personalidade!
O conto de fadas começa a ficar nublado, pois não é uma moto fácil de pilotar. O pneu traseiro de 24 centímetros faz com que a moto “queira” ficar em pé. Então, advinha o quê? Não é uma tarefa simples convencê-la a deitar na curva. Seus dois metros de comprimento também não a faz uma moto de trânsito, e aí que vem a característica mais difícil de se adaptar: o calor que vem de baixo. O calor do motor assa as coxas e cozinha tudo que tem entre elas. Fique mais de um minuto parado no farol e a moto começa sua metamorfose em inferno particular.
O sistema de arrefecimento liga, as pernas e arredores assam e se tiver sorte a sua calça comprida não vai derreter na saída do escapamento muito próximo da sua perna direita. Como usei a moto no dia a dia, queimei duas calças sociais. Show! Mesmo pilotando com calça jeans grossa, parei no farol já com a perna direita mais aberta, o que fica meio esquisito. A sorte é que ninguém vai reparar esta posição ridícula, mas sim ficar olhando para a moto. O farol abriu, marretei a primeira, recolhi a perna, a calça “incandescente” encostou. Xinga, pula, engata segunda e acelera para esfriar! Quando espetar a terceira, já esqueceu!
Anda muito!
Acelerar o motor Revolution® é prazeroso e totalmente “roots”. Retomar aceleração, melhor ainda. Claro que a relação do câmbio de cinco velocidades é muito boa para a estrada com a quinta respondendo incrivelmente bem a retomadas de velocidade acima dos 110 km/h.
Não adianta falar de aceleração sem lembrar que uma moto com 114 cavalos de potência e 306 quilos (291 seca) mais um “urso” como eu em cima, precisa frear (Brembo). O ABS seria bem-vindo de série e não opcional.
O tanque de 18,9 litros garante uma boa autonomia. Ao restar apenas 1,5 litros já acende o aviso de reserva.
Acabamento e Instrumentos
Os instrumentos são básicos mas necessários para a proposta da moto, com um painel simples mas funcional. Da esquerda para direita: conta-giros, velocímetro e marcador de combustível. Poderia ter a indicação da temperatura do motor, mas acho que a Harley preferiu não proporcionar pânico nos seletos pilotos do brinquedo.
Melhor assim. Abaixo do painel, o botão que alterna o mostrador de cristal líquido: hora, trip 1, trip 2 e hodômetro. A ignição, no bom estilo Harley sem chave, fica na lateral direita. Alguns detalhes como parafusos grandes demais e porcas galvanizadas aparentes demais, no mais elegante estilo HD, aparecem em todo o corpo da máquina.
O parafuso do escapamento é inesquecível, quase uma escultura tosca! Preparem os bolsos para passar um bom tempo em lojas da Harley, ou garimpando acessórios no eBay para equipar a moto e cobrir as, obviamente intencionais, falhas da montadora.
O tanque, em nome do design, fica situado abaixo do banco. Para abastecer você tem que afastar a cinta traseira e puxar o assento. Um pino de aparência frágil que segura o banco se solta e exibe as entranhas da moto.
Não gostaria nem de pensar em um descuido do frentista resultando em um derramamento de combustível naquela região.
É uma HD
Resumindo, a Night Rod Special é uma moto mítica que carrega a insígnia da marca. E esta edição comemorativa vem com um atrativo, um “plus”, que os adoradores da Harley mais prezam: história! 10 anos pode não parecer muito, mas é tempo suficiente para a Harley se orgulhar e materializar em uma grande moto emblemática. É moto para curtir, e vai bem como uma segunda moto.
Como disse, é uma HD no sentido mais amplo da palavra. No bom sentido: design e potência. No mau: bem, quem compra não se importa muito com o resto.